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Read Ebook: Crónicas imorais by Sampaio Albino Forjaz De

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Ebook has 531 lines and 57129 words, and 11 pages

?Mas n?o haver? olhares carregados de desconhecidos g?rmens morb?ficos, de elementos malfazejos, funestos e amea?adores?

Oh! o mau olhado! o mau olhado!

?Mas ser? o mau olhado incombat?vel? N?o. O nosso homem acredita tamb?m que <>.

?J? repararam na s?rie de desgra?as que tem pesado s?bre o pa?s desde que ? presidente do conselho o snr. Jo?o Franco? Pois, caso singular, as desgra?as sucedem-se e pode dizer-se que nunca houve tantas.

Um dia, na C?mara, no ac?so duma discuss?o, Hintze tem uma s?ncope. Ao acompanhar o ent?rro dum amigo e pol?tico, Hintze morre repentinamente, e os m?dicos gaguejam vagas cousas... farda v?lha... o calor do chap?u... insola??o. Jos? Dias Ferreira, rijo ainda apesar dos seus setenta anos, faz uma confer?ncia desafecta ao gov?rno e ? repentinamente atacado duma paralisia. Quando menos se espera, morre.

O que mais assombra ? o imprevisto com que a Morte tombou ?sses dois monarquistas de v?lha rocha, que, apesar de pontapizados no seu orgulho e nos seus anos de trabalho, ainda resistiam, cheios de vida e de cren?a.

O nosso estadista, nos seus tempos de Coimbra, n?o podia acariciar um gato, que o animal n?o morresse logo. H?o-de concordar que ? j? ter mau olhado.

N?o h? d?vida. ? necess?rio p?r um chifre atr?s da porta e trazer na algibeira os ramos de coral bifurcados, e as figas de azeviche. Nada, que o seguro morreu de v?lho.

Senhores da pol?tica, vamos.

Os mineiros

Les mineurs chamou Roll, o poeta do carbonoso, a uma das suas mais amadas telas.

<> ? o poema da gente que trabalha. Um crep?sculo ? hora do levantar da faina. A retirada dos mineiros, uma longa bicha de gente taciturna e acabrunhada que regressa do interior da terra. Ao fundo as altas chamin?s vomitam fumo, o seu fumo espesso e enovelado, carv?o que o vento desfaz. E, sob o c?u que o vento escurece, a retirada vai-se fazendo lentamente, como um ex?rcito estropeado que sai finalmente duma pra?a h? meses sitiada. E n?o tem fim, a escura prociss?o que sai da bocada negra dos po?os. Parece que nunca mais terminar?.

A greve recente da mina de S. Domingos veio canalizar aten??es para o assunto. E S. Domingos, que aparecia entre brumas de mist?rio, d? not?cias suas. S. Domingos ? uma feitoria ingl?sa. Tem pol?cia pr?pria, armada de belas carabinas, carabinas ?ltimo mod?lo para, emquanto os mineiros se estorcem de fome, ela patrulhar, na soturnidade da noite, de dedo no gatilho, o sono dos senhores.

Os mineiros s?o 3:000. Trabalham uma infinidade de horas e o sal?rio ? pouco. Como o sal?rio ? pouco e o trabalho muito, a alimenta??o ? m?. E como a alimenta??o n?o presta, a sa?de ? p?ssima.

Que querem ?les? Melhoria de sal?rio e um pouco menos de trabalho. O mineiro, por via de regra, ? s?brio. N?o tem desejos, n?o tem ambi??es. ? um animal de carga, pobre b?sta suada e indefesa, e as minas s?o uma nova escravatura. Duvidam? Muito embora. S?o ainda as gazetas que nos informam que essas reclama??es foram recebidas ... a tiro. Se isto n?o ? escravatura, ent?o...

A canalha revolta-se? Muito bem. Espingardeia-se. A canalha parlamenta? Acutila-se. A canalha n?o tem nome, a canalha n?o tem voz. A canalha ? a canalha, nada mais.

?Que a greve colheu a Empr?sa de improviso? De-certo. Pois a Empr?sa julgava l? que ?les soubessem pedir, que ?les soubessem falar!

O que a Empr?sa sabia era a m?dia de produ??o di?ria por cada animal daqueles, por cada escravo, a que pomposamente persistimos em chamar mineiros. A Empr?sa s? tinha um fito: Que cada homem trabalhasse o d?bro.

Que ?les tinham Direitos? Que ?les tinham est?mago? Que queriam Justi?a? Deixem-me rir. ?Que diabo se importa a Empr?sa com isso?

A Empr?sa explora-os; os capatazes, seus mandat?rios, esbofeteiam-nos. Oh! filantr?pica Empr?sa! Pois ?les s? esbofeteiam? Vamos l?. Podiam muito bem a?oit?-los, crucific?-los e esfol?-los. S? esbofeteiam!!!! Se na acta da assembleia geral lhes n?o f?r exarado um voto de louvor, por tanta humanidade, h?o de concordar que ? uma refinad?ssima pouca vergonha.

?Mas, realmente, os mineiros revoltam-se? Pior para ?les. ?Esquecem-se ent?o de que a Empr?sa tem pelo seu lado a f?r?a, e que os esmagar? irremedi?velmente? Fazem greve? Mas a greve termina aonde a fome principia. Quem ficar? por baixo? O mais fraco.

Ora quem capitula n?o imp?e condi??es, aceita-as. A fome principia e ei-los novamente escravizados. Ent?o, como um ex?rcito vencido que entrega os seus trof?us e as suas bandeiras, os grevistas entregam os seus direitos, os seus sonhos, as suas utopias, as suas ambi??es. E voltam novamente ao escuro da mina, ao ar irrespir?vel, ? meia-fome, ao trabalho extenuante, emquanto os directores da Empr?sa recome?am a partida de bilhar interrompida.

Courri?res f?z 1:200 v?timas.

?Sabem o que mais comoveu a Companhia exploradora? N?o foi a ceifa de mil e duzentos homens v?lidos, de mil e duzentos c?rebros e cora??es, de mil e duzentas vidas. N?o foram os lamentos de mil e duzentas fam?lias que se carpiam, que ficavam na ru?na e na mendiguez. O que a comoveu foi a ru?na, a perda dos po?os, o ruir das galerias, os motores paralisados e torcidos, as m?quinas destruidas. Foram os lucros que n?o se realisaram, os dividendos que n?o se distribuiram.

Um homem a quem roubaram a b?lsa pode l? preocupar-se com a morte em casa do vizinho!

Oitenta por cento dos desastres ? culpa das Empr?sas, que n?o teem outro fito sen?o roubar ? terra a mat?ria que as h? de enriquecer. A seguran?a dos oper?rios s? ? assegurada quando a falta dela pode prejudicar interesses de senhores. Os acionistas, emquanto o dividendo corre, claqueam. E ?sse rega-bofe ? ?s vezes interrompido pelo estalar dos travejamentos, pelo ru?do das derrocadas, pela grita dos feridos e pela lembran?a dos que l? ficaram no sil?ncio das galerias, irremedi?velmente.

Pois apesar de tudo, poss?vel ? que os mineiros n?o sejam atendidos. Para admirar ser? se o forem. Apesar do perigo que correm, a doen?a ? espreita, a morte perto, a velhice imposs?vel, as suas reclama??es parecem absurdas aos Directores.

O mesmo devia pensar aquele Suvarine, o russo, que nos aparece como um her?i, quando nas trevas, alta noite, suspenso s?bre a fundura do po?o, armado de trado e serrote, come?a no revestimento da mina a sua obra de destrui??o.

Um s?bio portugu?s

Esta separata agora publicada pelo dr. Costa Ferreira ? uma bela obra. Os nomes dos grandes mortos s?o como as plantas. Precisam de jardineiros, cultores apaixonados, tratadores conscienciosos e dedicados, sen?o breve vem a delir-se na mem?ria das gera??es e o seu derradeiro pouso ? nas p?ginas dos livros especialistas a que l? de vez em quando um ou outro compulsor estudioso sacode o p? e afugenta a tra?a. Precisam de quem buzine ao vulgo, para escarmento duns e exemplo doutros, a sua vida e as suas obras. Sempre assim se tem feito.

O nome de Ferraz de Macedo n?o podia encontrar mais piedoso cultor do que o seu disc?pulo e m?dico Costa Ferreira. Possuido do mesmo acendrado amor aos estudos antropol?gicos, amando o mesmo ideal, Costa Ferreira dele recebeu as ?ltimas vontades. Foi ?le o testamenteiro de <> que Ferraz destinou ao Museu da Escola Polit?cnica. ? ?le tamb?m que, cumprindo um ?ltimo prometimento, tomou ? sua conta o n?o deixar esquecer o nome do mestre e continuar-lhe a obra apoteotizando-lhe o nome numa cont?nua e modesta memoranda dos seus trabalhos.

Piedosa homenagem esta, tanto mais para encarecer quanto ? certo que, dada a indiferen?a geral e oficial, ningu?m tal encargo tomaria. Morreu, acabou-se. Trate cada um de si e j? n?o ? pouco! Auscultem um milhar de criaturas e digam-me se n?o ? assim que elas pensam!

Falho de senso pr?tico como todo o cerebral, ?le s? tinha uma ?nica paix?o: a sci?ncia. S? ela o vulnerabilizava, babando-se diante duma esqu?rola do homem terci?rio. Fora da sci?ncia, n?o vivia. Nada sentia que n?o f?sse passado pelo crivo dos seus apontamentos e pela ideia dos seus cr?nios. E t?o afastado o traziam os seus estudos, da vida v?vida, que breve iria ? mendiguez se m?o provedora e amiga n?o f?sse, acordando o s?bio do seu reino encantado, cuidar-lhe da manten?a.

Nessa abstrac??o t?o funda viveu, com seus can?rios os pequenitos da vizinhan?a, os seus cr?nios <>, medidos, e, ensacados por ?le, com m?o reminiscenciada dos seus tempos de aprendiz de alfaiate, e os seus gatos, que morreu sonhando. <>. Tais foram as suas ?ltimas palavras, erguendo-se num repel?o e visionando ainda uma vis?o acariciadora. N?o voltou a falar. Costa Ferreira tomou o encargo piedoso de o lembrar, de o n?o deixar morrer de todo, na ingratid?o ind?gena. Tal disse e tal cumpriu.

O s?bio morreu. Os jornais titubiaram, os amigos escapuliram-se e, mais tombo menos tombo, l? ficou no seu coval, talvez ainda com saudade dos seus cr?nios e dos seus apontamentos. Solit?rio como foi em vida, assim o foi na morte. A sua apoteose n?o chegara ainda. Os gazeteiros n?o carrilhonaram ?s multid?es cretinizadas nem sequer o <> da cozinha trivial. E como morrera pobre e modestamente se enterrou, tamb?m n?o panegirizaram a criatura com gir?ndolas de adjectivos surrados pelo uso e abuso da pindariza??o de todo o fiel bigorrilhas que morre e deixa ?sso que roer.

Depois talvez f?sse assim melhor. ?Que tinham que ver com ?le os adjectivos?

Se agora a matula ego?sticada bichanava sempre que o via um apodo desdenhoso, que resvalava do seu arnez de indiferen?a pelo que diriam, t?o longe andava dos que com ?le se acotovelavam, em tempos idos n?o faltaria o ingranzeu das turbas e o rumor falaz das v?lhas macb?ticas do s?tio, taxando de pacto diab?lico o seu estudo, qual outro Cl?udio Frollo.

E quem sabe l?, a esta hora talvez ?le esteja ainda contando ao verme as palavras enternecidas dos snrs. Manouvrier e Quatrefages e as saudades dos seus cr?nios muito amados.

Ent?o da outra vida, pensam as almas crentes, o s?bio aben?oar? de-certo e tarefa bondos?ssima, devotada e carinhosa do Dr. Costa Ferreira.

Emigrantes

Paro diante da reprodu??o dum quadro. ? do Salon d?ste ano, intitula-se <> e assina-o Paul Sieffert. Eu n?o conhe?o o pintor. O assunto conhe?o demasiadamente. Se n?o viram o quadro, eu conto. O quadro do sr. Paul Sieffert ? uma gare ou cousa que o valha. Cai neve. O horizonte ? long?nq?o e a perspectiva mon?tona. Nem uma ?rvore, nem uma planta. Neve, montes ao longe, neve sempre. ? direita vagons. Vagons de mercadorias, vagons que esperam tempo de seguir, levando n?o se sabe o qu?, ocupam qu?si t?da a tela. No primeiro plano uma mulher sentada no ch?o estende um peito ? voracidade do petiz que manduca. O macho, dorme ao lado, cabe?a s?bre uma perna sua, bra?o estendido ao longo do corpo. A m?o ? primorosa. O busto bem estudado. Na cara--a cara ? t?da uma psicologia--mostra a estereotipia de inumer?veis priva??es. Parece repousar, ou sonhar, cavada a face, bem vincadas as rugas que a ang?stia marca a baixo relevo no rosto dos que sofrem. A mulher ao lado cogita. Parece olhar-nos. N?o olha. Ela n?o v?. Scisma! Em qu?? S? ela o poder? dizer. Uma trouxa m?sera, junto, ? t?da a bagagem. ?le tipo de oper?rio, ela de f?mea resoluta e sofredora. V?o partir. Vencer?o? Quem o saber??

N?o sei porqu?, s?o-me simp?ticos estes tipos. Se pudesse, protegia-os. Sucede muitas vezes a minha piedade ir de prefer?ncia para os tipos que os meus pintores ou os meus artistas me entremostram--t?o pouco a merecem, os que a gente topa todos os dias. Ao lado uma ranchada manduca, ainda. Mais longe, pequenos ranchos, trocam esperan?as. Um vulto, ao fundo ou qu?si, remexe a maleta. E, como se o pintor os quisesse destacar, aparece-nos, qu?si escondidamente, um v?lho que sonha, pelas costas um v?lho capote, no olhar uma nostalgia feroz, contrastando com um homem que, de bru?os, rosto apoiado na palma, scisma. N?o scisma em sonhos. Scisma em realidades. A energia da sua express?o traduz-se assim. ? amargo. ?ste homem sabe da vida. H? combates no seu c?rebro. Vencer?? Todos ?les v?o partir. Ilus?es, quimeras, esperan?as, ? a bagagem. Sabe-se l? quem vence?

At? aqui o quadro. Se a agente quiser realidade, apesar da tela ser de Paris, temo-la bem perto. N?s somos do pa?s da emigra??o. O quadro de Sieffert ? tamb?m nosso, com a diferen?a de o nosso ser de mais recrudesc?vel agonia. O portugu?s ? mais triste.

Todos os dias desembarcam nas esta??es, mangas de gente engajada que sonhou e ainda vem sonhando. V?o at? ao Brasil e s?o o que se chama emigrantes. Ent?o pagam a patente ? realidade. O emigrante, por via de regra, n?o sabe escrever. Soletra ?s vezes, mas ? mais frequente n?o saber. N?o sabendo ler, n?o tendo a confid?ncia muda da escrita por derivativo, estes c?rebros deitam-se a sonhar como nunca sonhou ningu?m. As hist?rias das princesas encantadas, as m?gicas, os contos da carochinha e mil belezas populares foram criadas de-certo por quem n?o sabia ler nem escrever. O Sonho ? a v?lvula. Ai daqueles pobres c?rebros se n?o tivessem o Sonho! Terminariam no suic?dio. Mas o Sonho ? a miragem. Acreditou algu?m no Sonho? Sempre ?sse algu?m pagou caro a sua confian?a. Porque ? certo: S? quem teve pesadelo acordou em realidade. Quem sonhou del?cias acorda mais brutalmente--como algu?m que tendo vivido dois meses em quarto escuro o trouxessem de repente para a alacridade duma paisagem batida da soalheira.

Sonham em Portugal, na solid?o tranq?ila da sua cho?a e qu?si sempre v?o acordar em long?nq?as e estranhas terras. Olham em volta. Quem? Ningu?m amigo. Indiferentes, criaturas a quem a d?r alheia, ? for?a de vista e assistida, embotou t?da a sensibilidade. A saudade ? o pior inimigo do emigrante. <>, diz Garrett. Mas a saudade ? tudo. Se se v? o mar, ? um vapor que vem, porque vem; se um vapor parte, ai quem d?ra ir com ?le, partir tamb?m com ?le. S?o os poentes, duma melancolia infinita, s?o as noites estreladas e tropicais, s?o nuvens que passam correndo, farrapos de sonho, recorda??es da inf?ncia, cousas dispersas. Tudo ? saudade. E o pobre animal, b?sta de carga, gaguejando como??es, tem nos olhos uma ang?stia latente, uma tristeza intraduz?vel, mixto de resigna??o, de sofrimento e dum consuntivo mal. Mas, parte. Armazenam-o a bordo, num d?sses casar?es flutuantes, ?mbito estreito, muito desabrigo, trato mercen?rio e uma grade que os enjaula num restrito c?rculo de vida. Ali dormem, comem e sonham prom?scuamente. E naquelas longas noites de travessia, enxugadas as l?grimas da partida, estranguladas as saudades da largada, s? o mugir surdo das vagas lambendo o casco e os ronquidos surdos da m?quina cumprindo o seu fad?rio. Pobres almas divagantes, v?o tamb?m embaladas no sonho, confiadas, e n?o escutando, no marulho do oceano, a sua raiva fria e hostil, mas um c?ntico embalador, que traz de onda em onda, de vaga em vaga, as recorda??es distantes, a misteriosa correspond?ncia dos entes queridos que ficaram em terra.

Chegados, caidos no v?rtice duma vida estranha, tudo lhes ? agressivo. Os dignos de piedade s?o intrusos. Que querem? Ganhar a vida. Que sabem? E, quando os m?seros mostram os bra?os, j? est? lavrada a sua condena??o. Como a Terra Mater ? saudosa! E come?a a agonia de viver a vida que j? viveram, porque n?o ? outra cousa a saudade. Mas viver s? imaginativamente. Se beijou vai-se para se beijar e estendem-se os l?bios para o v?cuo. Abra?ou-se e ? s? o espa?o que se encontra. Passa a viver-se aflitivamente. Pesa mais a enchada. A serra ? colossal. E como a planta dos tr?picos que conduziram ? Groenl?ndia, ou como o s?mio que julgasse a banana definitivamente extinta da face da terra, a criatura amarelesce e pende. H? um rem?dio--o regresso. Quando partiu, se ? sonhadora, padece, se ? desprendida pode triunfar talvez. Mas quantas lutas? Quantos esfor?os? ? por isso que os brasileiros,--? assim que se denominam os emigrantes que partiram cedo e foram enriquecer ao Brasil--teem qu?si todos barriga grande. Porque se acostumaram a armazenar o sonho no est?mago. Saudades, recorda??es, qual!--comer, beber, ganhar. Mas s?o raros. Os que voltam veem desanimados. Os que por l? est?o v?o vivendo. Depois o emigrante ? sonhador e ignorante. Duas m?s qualidades. H? ignorantes que fazem fortuna mas nunca ningu?m viu coalhar dinheiro a um sonhador.

S?o ambiciosos? Alguns. Outros partem com o fatalismo tr?gico de quem vai cumprir um destino. ? o caso do v?lho do quadro de Sieffert. Os ambiciosos ficam por l?, raramente voltam e geralmente o ambicioso verdadeiro ? cosmopolita, n?o vive para a saudade nem para ningu?m que ?le n?o seja. Por isso vence. Os outros v?o e qu?si sempre ficam. Mas se voltam--pobres emigrantes--trazem um saquitelzinho com desilus?es,--o esp?lio dum sonho morto,--um grande des?nimo, a alma mais fenecida, o cad?ver mais surrado e uma grande ?nsia de voltar--que ? isto que qu?si sempre traz o emigrante quando volta:--o saquitelzinho com o esp?lio dum sonho morto e uma grande ?nsia, aquela infinita ?nsia do regresso.

Gabri?llo d'Annunzio

Agora estou eu assim diante do livro do escritor italiano. Eu n?o tenho paix?o por d'Annunzio.

Acho-o cabotino at? ao infinito. O seu cabotinismo n?o se pode medir. O seu talento ?sse sim. E duvido. ?Ser? d'Annunzio o grande escritor que eu ou?o dizer a todos? Debalde busco as suas obras, debalde leio os seus livros. Que dem?nio! N?o me admiro, n?o me comovo, n?o rio, n?o choro, n?o sinto. Sim, porque nenhum dos livros de d'Annunzio nunca me f?z chorar ou me f?z sentir. S?o bem feitos, n?o resta d?vida. Mas que diabo! E d?o-me ganas de o correr das minhas estantes. Desconfio muito que seja um intruj?o.

D'Annunzio ? para mim um belo decorador. A sua arte ? scenografia pura. H? sempre flores e perfumes nas suas p?ginas. O lilaz ? talvez a sua flor preferida. O poente a sua hora predilecta. Os seus her?is n?o amam, lirizam. Os seus personagens n?o falam, murmuram; n?o sentem, representam. E, para que ocult?-lo, apesar da sensualidade capitosa que os inunda, iria apostar que s?o todos castrados.

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